Estabelecendo Sintonia com a Plateia
Ouvir uma palestra é diferente de ler um livro, não se trata apenas de palavras, mas de quem está as pronunciando. Logo, é preciso ter permissividade do outro para que a sua mensagem possa entrar na mente de alguém, pois não se empurra conhecimento para dentro do cérebro.
Em geral as pessoas têm cuidado ao abrirem suas mentes, possuem bloqueios, proteções, que as protegem de conhecimentos perigosos capazes de prejudicar a visão de mundo da qual dependem. Verdadeiras armaduras, que podem se traduzir através de: ceticismos, desconfiança, tédio, apatia, incompreensão, entre outros.
O fato é que determinados grupos sociais possuem certos valores em comum e o primeiro passo é o palestrante saber bem para que tipo de público ele está falando. Isto porque grupos sociais assim o são justamente porque compartilham determinados valores, crenças e modelos mentais congruentes. Sendo assim, seria como imaginar a sua plateia possui um mapa, e você pode fazer o melhor para se aproximar do mapa dela.
Alguns artistas, cantores, humoristas e companhias de circos, por exemplo, acostumados a viajar pelo mundo em diversas culturas, colocam alguns elementos da cultura local no espetáculo, como, por exemplo, uma música típica do local, dizem jargões e frases da cultura, levam a bandeira do país, fazem alguma piada que só os nativos dali entenderiam, etc.
Uma pesquisa feita pela psicóloga Argyle (1978) sugere que o conteúdo das palavras (verbal) é responsável por apenas 7% e a comunicação não verbal (expressões faciais, movimentos do corpo) para 55% do significado de uma mensagem os restantes 38% derivada das características vocais.
Sua presença comunica, seu corpo comunica, o movimento dos olhos comunica, a postura, o pescoço, o relaxamento ou contração dos músculos comunica, o sorriso comunica, o olhar comunica, a velocidade dos gestos comunica, a posição das suas mãos comunica. Sua roupa comunica, sua idade comunica, seu tom de voz comunica, a velocidade da sua fala comunica, a entonação que você atribui a certas palavras, o volume, a cadência, também.
Sua ausência também comunica: quando você está numa mesa de bar com amigos e simplesmente levanta e sai, sem dizer nada, isto vai comunicar alguma coisa a eles, não vai ? O silêncio comunica, pois, muitas vezes, o não envio de uma mensagem já é, por si só, uma mensagem.
E, por fim, aquilo que você fala ou escreve através de palavras também comunica. A linguística nos alerta para entender justamente isto: não só o conteúdo do que se fala, mas, também, o como se fala, quais as palavras que são repetidas, quais as frases que o volume de voz altera e as circunstâncias do ambiente em que essa fala se dá.
Assim, é possível equalizar os estados internos utilizando estímulos, música, respiração, movimentos repetidos, figurino adaptado à cultura do lugar, afinal, ir palestrar para jovens de uma startup é diferente de se apresentar num congresso científico. Pra isto é preciso ter:
- Sintonia, seja pessoal;
- Refreie o ego, para colocar as pessoas em primeiro lugar e compreender seus anseios e expectativas;
Alteridade, isto é, entender que o outro é importante e que somos seres sociais, animais políticos que dependemos dos outros;
- Ausência de julgamento e respeito ao mapa alheio;
- Faça contato visual e vulnerabilize-se. Mostre a sua humanidade;
- Conte histórias, faça piadas, seja leve e autêntico;
Por fim, resta saber: o quanto você conhece sobre sua plateia ? E quais elementos (imagens, cores, sons, movimentos, palavras, expressões, jargões, roupas, acessórios, exemplos, etc) você pode utilizar para aproximar o seu mundo do mundo de quem está te ouvindo ? Isto porque sua primeira tarefa como palestrante é descobrir como construir um laço de confiança humana com seus ouvintes para que eles deem permissividade e pleno acesso de suas mentes às ideias que você traz.
Às vezes falo dessas sugestões como ferramentas ou técnicas, mas é importante que não se revelem dessa forma. Elas precisam ser parte de um desejo autêntico de sintonia. Você é um ser humano. São ouvintes são seres humanos. Pense neles como amigos, e estenda a mão.